19 de maio de 2024

Três discos considerados quebras de sonoridade nas discografias de bandas nacionais

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Por Guilherme Moro

A maioria das bandas possuem pelo menos um disco considerado uma quebra de paradigma, ou seja, um trabalho feito com mudanças bruscas de sonoridades, temas e até mesmo de influências na composição de suas faixas.

Isso geralmente ocorre quando elas resolvem romper com padrões impostos por rádios, gravadoras e até mesmo com uma imagem estabelecida pelo próprio público.

Alguns destes atos culminaram em discos maravilhosos e que pra sempre ficaram marcados na história da música. Para relembrar alguns destes, separei quatro discos considerados rompimentos de sonoridade de bandas do rock brasileiro.

4° – Titanomaquia – Titãs

O grupo de São Paulo, que em seus dois primeiros discos atirou para todos os lados se tratando de som, conseguiu lançar álbuns com estéticas muito bem definidas em uma das sequências de lançamentos mais geniais da história: “Cabeça Dinossauro” (1986), “Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas” (1987) e “Õ Blesq Blom” (1989).

Em 1991, com o lançamento de “Tudo ao Mesmo Tempo Agora”, o grupo assumiu a produção e pesou a mão em riffs e começou a tratar de temas mais pesados. O álbum culminou na saída de Arnaldo Antunes no ano seguinte, que não gostou muito da guinada mais pesada na qual os Titãs estavam embarcando.

A imprensa também não gostou muito da ideia de ter uma das bandas mais poéticas do rock brasileiro partindo para um som totalmente esdrúxulo em comparação aos demais conjuntos da época.

Com tantas coisas indo contra o rumo que os integrantes estavam indo, a grande maioria voltaria atrás e retornaria ao que estava dando certo. Mas os Titãs são únicos e dois anos depois, eles lançaram o ainda mais pesado, “Titanomaquia”.

O álbum contou com a produção musical de Jack Endino, estadunidense de Seattle que produziu o álbum de estreia do Nirvana, “Bleach”. Pela escolha, já da para imaginar o caminho que o grupo desejava seguir.

Riffs pesados, letras mais ainda e temas densos. Tudo isso está presente nos menos de 40 minutos de música que compõem “Titanomaquia”. Os destaques ficam por conta das geniais “Será Que é Isso Que Necessito?”, ‘Disneylândia”, “Estados Alterados da Mente”, “Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguido de Orgia” e “Taxidermia”.

3° – Psicoacústica – Ira!

O ano era 1986 e o Ira! lançava o álbum “Vivendo e Não Aprendendo”, que continha os hits “Envelheço na Cidade”, “Flores em Você”, “15 Anos” e “Dias de Luta”. O sucesso entrondoso das faixas fez com que o disco vendesse mais de 180.000 cópias, ganhando disco de ouro na época.

Com todo o êxito que obtiveram, os rapazes de São Paulo estavam com prestigio na gravadora (Warner) e foram convidados para estender o contrato. Na teoria, o próximo álbum da banda seria cheio de músicas com refrões, melodias e arranjos mais fáceis, para ter um maior apelo comercial.

Na contramão do que era considerado óbvio, eles fizeram “Psicoacústica”, um disco cheio de arranjos experimentais, músicas longas, samples obscuros e músicas sem refrão, mostrando toda a autenticidade da banda comprovando a fama que sempre tiveram de serem “underground pro mainstream e mainstream para o underground”.

Nasi e o então baterista, André Jung, estavam com influências do rap e do hip-hop, principalmente por terem produzido algumas faixas da coletânea “Cultura de Rua”. O vocalista também trouxe a ideia da utilização de samples, principalmente de falas do filme “O Bandido da Luz Vermelha”(1968) do cineasta Rogério Sganzerla.

Músicas do início do Ira!, como “Pegue Essa Arma”, “Poder, Sorriso, Fama” e “Receita Para Se Fazer Um Herói”, estão presentes no repertório do álbum. O mais impressionante neste trabalho são as guitarras fantasmagóricas de Edgard Scandurra, os vocais limpos de Nasi, o baixo agressivo de Ricardo Gaspa e a bateria intensa de André Jung.

No ano de 2007, ele foi considerado pela Rolling Stone Brasil como o 81° melhor álbum brasileiro de todos os tempos.

2° – Maquinarama – Skank

“Isso é Skank?”: essa era a reação da maioria das pessoas ao ouvirem o álbum “Maquinarama”, lançando pela banda mineira em 2000 e considerado uma guinada brusca de sonoridade na carreira dos caras.

Conhecidos pela mistura de ska, reggae e música brasileira, o Skank apresentou um disco no qual todos os seus mais conhecidos e aclamados elementos havia sido deixados de lado.

Sem metais, sem reggae, mas com guitarras distorcida e abertura de vozes entre os integrantes, o som no mínimo diferente do “novo Skank” espantou parte do público em um primeiro momento, mas olhando anos depois, podemos considerar a guinada como um grande acerto.

Não só pelos grandes hits que produziram depois do lançamento deste trabalho, mas também pela longevidade que essas canções tiveram, longe da fórmula do sucesso que eles conceberam nos quatro primeiros álbuns.

Em “Maquinarama” estão presentes os sucesos “Três Lados”, “Balada do Amor Inabalável” e “Canção Noturna”. São claras as influências do britpop no som do grupo e nas letras de Samuel Rosa, que começou a compor com Lô Borges e outros compositores de notável renome, como Edgard Scandurra.

O álbum abre a trilogia incrível que produziram, que seria completada com os álbuns “Cosmotron” (2003) e “Carrossel” (2006).

Apesar da baixa vendagem em comparação aos outros discos, “Maquinarama” foi o grande passo da carreira da banda e um divisor de águas que não fez com que a banda perdesse suas raízes.

1 – Lapadas do Povo – Raimundos

Se distanciando dos elementos oriundos da música nordestina, que foram os principais diferenciais da banda nos dois primeiros discos, os Raimundos propuseram em “Lapadas do Povo”, uma sonoridade mais pesada e letras com cunho social, como na faixa “Baile Funky”.

O público recebeu o álbum com certo estranhamento, principalmente em relação as letras, que já não eram tão bem humoradas, mas que ainda tinham alguns resquícios, como na versão de “Ramona”, dos Ramones, que recebeu o nome de “Pequena Raimunda” e em “Nariz de Doze”.

Rodolfo Abrantes e Digão peopuseram riffs intensos e pesados. O vocalista exilou qualquer resquício nordestino no sotaque de seus vocais, que deram lugar a uma agressividade quase heavy metal.

O disco vendeu menos que os anteriores, apesar de receber boas críticas. Muitos consideram este trabalho o melhor de toda a discografia da banda, que mostrou uma vertente mais séria e que provou que tinha potencial para fazer qualquer tipo de som.

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